Textos sobre a desumanização do trabalho
Texto 1. Adam Smith. A
Riqueza das Nações. Volume 2. Coleção Os Economistas. SP. Editora Abril,
p.242
Com o avanço da divisão do trabalho, a ocupação da maior parte daqueles
que vivem do trabalho, isto é, da maioria da população, acaba restringindo-se a
algumas operações extremamente simples, muitas vezes a uma ou duas. Ora, a
compreensão da maior parte das pessoas é formada pelas suas ocupações normais.
O homem que gasta toda sua vida executando algumas operações simples, cujos
efeitos também são, talvez, sempre os mesmos ou mais ou menos os mesmos, não
tem nenhuma oportunidade para exercitar sua compreensão ou para exercer seu
espírito inventivo no sentido de encontrar meios para eliminar dificuldades que
nunca ocorrem. Ele perde naturalmente o hábito de fazer isso, tornando-se
geralmente tão embotado e ignorante quanto o possa ser uma criatura humana. O entorpecimento
de sua mente o torna não somente incapaz de saborear ou ter alguma participação
em toda conversação racional, mas também de conceber algum sentimento generoso,
nobre ou terno, e, consequentemente, de formar algum julgamento justo até mesmo
acerca de muitas das obrigações normais da vida privada. Ele é totalmente
incapaz de formar juízo sobre os grandes e vastos interesses de seus país; e, a
menos que se tenha empreendido um esforço inaudito para transformá-lo, é
igualmente incapaz de defender seu país na guerra. A uniformidade de sua vida
estagnada naturalmente corrompe a coragem de seu espírito, fazendo-o olhar com
horror a vida irregular, incerta e cheia de aventuras de um soldado. Esse tipo
de vida corrompe até mesmo sua atividade corporal, tornando-o incapaz de
utilizar sua força física com vigor e perseverança em alguma ocupação que não
aquela para a qual foi criado. Assim, a habilidade que ele adquiriu em sua
ocupação específica parece ter sido adquirida à custa de suas virtudes intelectuais,
sociais e marciais. Ora, em toda sociedade evoluída e civilizada, este é o
estado em que inevitavelmente caem os trabalhadores pobres — isto é, a grande
massa da população — a menos que o Governo tome algumas providências para
impedir que tal aconteça.
Questão 1.1 . Qual é para Adam Smith a causa da desumanização do trabalho?
Texto 2. O Manifesto do Partido
Comunista. Karl Marx e
Friedrich Engels. In http://www.psb40.org.br/bib/b30.pdf
As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo, voltam-se hoje
contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que
lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas - os
operários modernos, os proletários. Com o desenvolvimento da burguesia, isto é,
do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários
modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram
trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses operários,
constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como
qualquer outro; em consequência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da
concorrência, a todas as flutuações do mercado. O crescente emprego de máquinas
e a divisão do trabalho, despojando o trabalho do operário de seu caráter
autônomo, tiram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da
máquina e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona, mais fácil
de aprender. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente,
aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e perpetuar sua
existência. Ora, o preço do trabalho , como de toda mercadoria, é igual ao
custo de sua produção. Portanto, à medida que aumenta o caráter enfadonho do
trabalho, decrescem os salários. Mais ainda, a quantidade de trabalho cresce
com o desenvolvimento do maquinismo e da divisão do trabalho, quer pelo
prolongamento das horas de labor, quer pelo aumento do trabalho exigido em um
tempo determinado, pela aceleração do movimento das máquinas, etc. A indústria
moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporação patriarcal
na grande fábrica do industrial capitalista.
Questão 2.1. Qual é para Marx e Engels
a causa da desumanização do trabalho?
Texto 3. A
Gerência Científica. Extraído do livro Trabalho e Capital Monopolista . A
Degradação do Trabalho no Século XX. Harry Braverman, RJ, editora Zahar .1977.
"Segundo princípio Todo possível trabalho cerebral deve ser banido da oficina e centrado no
departamento de planejamento ou projeto..’ .... No ser humano, como vimos, o
aspecto essencial que torna a capacidade de trabalho superior à do animal é a
combinação da execução com a concepção da coisa a ser feita. Mas à medida que o
trabalho se torna um fenômeno social mais que individual, é possível –
diferentemente do caso dos animais em que o instinto como força motivadora é
inseparável da ação – separar concepção e execução. Essa desumanização do
processo de trabalho, na qual os trabalhadores ficam reduzidos quase ao nível
de trabalho em sua forma animal, enquanto isento de propósitos e não pensável
no caso de trabalho auto organizado e auto motivado de uma comunidade de produtores,
torna-se aguda para a administração do trabalho comprado. Porque, se a execução
dos trabalhadores é orientada por sua própria concepção, não é possível, como
vimos, impor-lhes uma eficiência metodológica ou o ritmo de trabalho desejado
pelo capital. Em consequência, o capitalista aprende desde o início a tirar
vantagem desse aspecto da força de trabalho humana e a quebrar a unidade do
processo de trabalho. P.103 ,104
(...)
“Os possuidores do tempo de trabalho não podem eles mesmo fazer o que quer que seja com ele, mas só lhe resta vendê-lo como meio de subsistência. É verdade que essa é a regra nas relações capitalistas de produção e o emprego do argumento por Taylor no caso mostra com grande clareza aonde o poder do capital leva: não apenas o capital é propriedade do capitalista, mas o próprio trabalho tornou-se parte do capital. Não apenas os trabalhadores perdem o controle até do seu trabalho e do modo como o executa. Esse controle pertence agora àqueles que podem arcar com o estudo dele a fim de conhecê-lo melhor do que os próprios trabalhadores conhecem sua atividade viva’ p. 106
“Os possuidores do tempo de trabalho não podem eles mesmo fazer o que quer que seja com ele, mas só lhe resta vendê-lo como meio de subsistência. É verdade que essa é a regra nas relações capitalistas de produção e o emprego do argumento por Taylor no caso mostra com grande clareza aonde o poder do capital leva: não apenas o capital é propriedade do capitalista, mas o próprio trabalho tornou-se parte do capital. Não apenas os trabalhadores perdem o controle até do seu trabalho e do modo como o executa. Esse controle pertence agora àqueles que podem arcar com o estudo dele a fim de conhecê-lo melhor do que os próprios trabalhadores conhecem sua atividade viva’ p. 106
Questão 3.1. Como Harry Braverman caracteriza a desumanização do trabalho produzida
pelo taylorismo?
Texto 4. O texto abaixo foi retirado do capítulo 1. Do Capitalismo à Sociedade
do Conhecimento , do livro: Sociedade Pós- Capitalista. Peter Drucker. RJ,
Editora Pioneira, 1993. Paginas 15 a 19 “ O que então derrotou Marx e o marxismo ? Em 1950 , muitos de nos já sabiam que o marxismo fracassara tanto moral como economicamente. Mas ele ainda era a única ideologia coerente para a maior parte do mundo , para a qual o marxismo parecia invencível. Havia antimarxistas em abundância, mas poucos era não marxistas, isto é , pessoas que achavam que o marxismo havia se tornado irrelevante. Mesmo os maiores opositores do socialismo ainda estavam convencidos de que ele estava em ascensão.
O que então superou as ‘inevitáveis contradições do capitalismo’, a ‘alienação’ e a ‘indigência’ da classe trabalhadora e com elas toda a noção de proletariado?
A resposta está na Revolução da Produtividade. Quando o conhecimento mudou o significado há duzentos e cinquenta anos, ele começou a ser aplicado a ferramentas, processos e produtos. Este ainda é o significado de ‘tecnologia’ para a maioria das pessoas e também o que está sendo ensinado nas escolas de engenharia. Mas dois anos antes da morte de Marx, já havia começado a Revolução da Produtividade. Em 1881, um americano Frederick Winslow Taylor (1865/1915), pela primeira vez aplicou o conhecimento ao estudo do trabalho, à sua análise e à sua engenharia.
“ Poucas figuras na história intelectual tiveram maior impacto do que Taylor – e poucas foram tão obstinadamente mal compreendidas ou citadas erroneamente com tanta frequência . Em parte sofreu porque a história provou que ele estava certo e os intelectuais errados . Em parte, ele é ignorado porque o desprezo pelo trabalho ainda está presente, principalmente entre os intelectuais . Certamente carregar areia com uma pá (a mais conhecida das análises de Taylor ) não é algo que um ‘homem educado’ possa apreciar , e menos ainda considerar importante.
Mas a reputação de Taylor sofreu muito mais precisamente porque ele aplicou o conhecimento ao estudo do trabalho. Isso era um anátema para os sindicatos do seu tempo que montaram contra ele uma das mais odiosas campanhas para o assassinato de uma reputação da historia americana.
Mas os sindicatos mais respeitados e poderosos na América de Taylor eram aqueles dos arsenais e estaleiros estatais que, antes da Primeira Guerra Mundial centralizavam toda a produção de defesa em tempos de paz. Esses sindicatos eram monopólios de artesanato: a participação neles era restrita a filhos e parentes dos membros. Eles exigiam um aprendizado de cinco a sete anos, mas não tinham treinamento sistemático, nem estudo do trabalho. Não era permitido anotar nada; não havia nem mesmo plantas ou outros desenhos do trabalho a ser feito. Os membros tinham que jurar segredo e não podiam discutir seu trabalho com não membros. A afirmação de Taylor, de que o trabalho podia ser estudado, analisado e dividido em uma série de movimentos repetitivos simples – cada um dos quais devia ser executado de uma maneira certa , no seu melhor tempo e com suas ferramentas corretas – era de fato um ataque frontal aos sindicatos. E assim eles o difamaram e conseguiram que o Congresso proibisse qualquer aplicação de ‘estudo de tarefas’ em arsenais e estaleiros do governo – uma proibição que vigorou até depois da Segunda Guerra Mundial.
Taylor não melhorou a situação, ofendendo os proprietários das indústrias tanto quanto havia ofendido os sindicatos. Embora não desse muita importância aos sindicatos, ele era desdenhosamente hostil aos proprietários, seu apelido favorito para eles era ‘porco’ . Além disso, ele insistia que os trabalhadores, não os patrões ficassem com a parte do leão dos ganhos produzidos pela ‘gerência científica’ . Para acrescentar o insulto à injúria, seu Quarto Princípio exigia que o estudo do trabalho fosse feito consultando-se o trabalhador , ou mesmo em parceria com ele.
Finalmente, Taylor afirmava que a autoridade na fábrica não podia ser baseada na propriedade. Ela poderia ser baseada somente no conhecimento superior. Eu outras palavras, ele exigia aquilo que hoje chamamos de ‘gerência profissional’ – um anátema e uma heresia radical para os capitalistas do século XIX . Taylor foi severamente atacado por eles como ‘criador de casos’ e ‘socialista’ (Alguns dos seus associados mais próximos, em especial Karl Barth, seu braço direito, eram de fato esquerdistas declarados e fortemente anticapitalistas)
O axioma de Taylor , pelo qual todo trabalho manual , qualificado ou não, podia ser analisado e organizado pela aplicação do conhecimento, era um absurdo para os seus contemporâneos. E o fato de que havia uma mística nas aptidões artesanais ainda continuou sendo universalmente aceito por muitos e muitos anos. Foi essa crença que encorajou Hitler , em 1941, a declarar guerra contra os Estados Unidos. Para que este país colocasse uma força eficaz na Europa, seria necessária uma grande frota para transportar as tropas. Naquela época , os Estados Unidos quase não tinham marinha mercante , nem destróieres (navio de guerra) para protegê-la. Além disso, argumentou Hitler , a guerra moderna exigia instrumentos óticos de precisão em grandes quantidades; e não havia trabalhadores óticos qualificados nos Estados Unidos.Hitler estava absolutamente certo. Os Estados Unidos não tinham grande marinha mercante e seus destróieres eram poucos e ridiculamente obsoletos. E também não tinham quase nenhuma indústria ótica. Porém, aplicando a Gerência Científica de Taylor, a indústria americana treinou trabalhadores totalmente desqualificados muitos dos quais antigos meeiros (trabalhadores agrícolas que trabalham à meia parte) criados em um ambiente pré-industrial, transformando-os, em sessenta a noventa dias , em soldadores e construtores de navios de primeira classe.
Pessoas dessa mesma espécie foram igualmente treinadas para que dentro de poucos messes , produzissem instrumentos óticos de precisão de qualidade superior àquela dos alemães – alem disso, em linha de montagem.
A aplicação do conhecimento ao trabalho elevou a produtividade de forma explosiva. Por centenas de anos não tinha havido nenhum aumento na capacidade dos trabalhadores para produzir ou movimentar bens. As máquinas criaram maior capacidade, mas os próprios trabalhadores não eram mais produtivos do que haviam sido nas oficinas da Grécia antiga, na construção das estradas de Roma imperial ou na produção dos produtos altamente apreciados tecidos de lã que fizeram a riqueza de Florença no Renascimento
Porém, alguns anos depois que Taylor começou a aplicar o conhecimento ao trabalho, a produtividade começou a subir à taxa de 3,5 ao ano, o que significa dobrar a cada 18 anos. Desde que Taylor começou, a produtividade aumentou cerca de 50 vezes em todos os países avançados. E essa expansão sem precedentes foi a origem de todas as elevações do padrão e da qualidade de vida nos países desenvolvidos.
Metade dessa produtividade adicional tomou a forma de maior poder de compra; em outras palavras, a forma de um padrão de vida melhor. Mas algo entre um terço e a metade tomou a forma de horas de lazer. Em 1910, os trabalhadores nos países nos países desenvolvidos ainda trabalhavam tanto quanto sempre haviam trabalhado antes, isso é, no mínimo 3000 horas por ano. Hoje os japoneses trabalham 2000 horas por ano , os americanos 1850 e os alemães 1600 – te dos eles produzem cinquenta vezes mais por hora do que há oitenta anos atrás. Outras parcelas substanciais do aumento da produtividade tomaram a forma de cuidados de saúde, os quais subiram de 0% do PNB para 8 a 12% nos países desenvolvidos, e de ensino que passou de cerca de 2% do PIB para 10% ou mais.ente ganhava mais de US$ 500,00 por ano. Hoje um trabalhador sindicalizado nos EUA , Japão ou Alemanha , trabalhando somente quarenta horas por semana, ganha US$ 50 000,00 anuais em salários e benefícios – US $ 45 000,00 depois dos impostos- que equivalem a cerca de oito vezes o preço de um carro barato novo.
Em 1930, a Gerência Científica de Taylor – a despeito da resistência de sindicatos e intelectuais – tinha se estendido a todo o mundo desenvolvido. Em consequência disso, o ‘proletário’ de Marx tornou-se um ‘burguês’. Foi o operário da indústria manufatureira, o ‘proletário’ e não o ‘capitalista’, quem se transformou no verdadeiro beneficiários do Capitalismo e da Revolução Industrial . Isso explica o fracasso total do marxismo nos países altamente desenvolvidos, para os quais Marx havia previsto uma revolução por volta de 1900 . Explica por que, depois de 1918 não houve mais uma ‘Revolução do Proletariado’ nem mesmo nos países derrotados da Europa Central , onde havia miséria , fome e desemprego. Explica porque a Grande Depressão não levou a uma revolução comunista como esperavam Lenin e Stalin – e praticamente todos os marxistas. Naquela época os proletários de Marx ainda não haviam se tornado afluentes, mas já pertenciam à classe média . Eles haviam se tornado produtivo
‘Darwin, Marx e Freud’ formam a trindade frequentemente citada como ‘os criadores do mundo moderno’ . Se houvesse alguma justiça no mundo, Marx deveria ser retirado e substituído por Taylor “ (página 19)
ATIVIDADES REFERENTES AO TEXTO 4
4.1 . Peter Drucker tem uma opinião positiva ou negativa em relação ao taylorismo ? Justifique a sua resposta
4.2. Peter Drucker afirma em alguma parte do texto que o taylorismo não desumaniza o
trabalho ? Fundamente a sua resposta.
4.3. Para Peter Drucker , qual foi a grande contribuição do taylorismo para a nossa sociedade ? .
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