sábado, 4 de maio de 2019

esquema de aula. Críticos da Sociedade Moderna


Esquema de aula
Críticos da Sociedade Moderna

Aprendemos que a Sociologia pode ser entendida como uma reação à sociedade moderna. Em primeiro lugar ela é uma reação porque alguns intelectuais se esforçaram por caracterizar e explicar o novo tipo de sociedade que tinha surgido da decadência da sociedade tradicional (agrária). Assim, a Sociologia surge para explicar a nova realidade social.

Porém, a Sociologia também pode ser vista como uma reação à sociedade moderna uma vez que os cientistas sociais do final do século XIX e início do XX se imbuíram de que a nova ciência também deveria contribuir para melhorar a sociedade existente. E isso implicava em criticar o que consideraram o principal ou os principais problemas criados pela realidade social.

Convém lembrar que a Sociologia não criou a crítica social. Na tradição ocidental até mesmo os profetas bíblicos podem ser considerados precursores da tradição crítica. Grosso modo, o que caracteriza a crítica social anterior ao surgimento da Sociologia é o seu caráter moral. O que esta nova ciência trouxe de novo à tradição crítica foi a sociologização da crítica social. Em termos bem simples isso quer dizer que os problemas sociais (objeto da crítica) têm causas sociais.

Os três principais sociólogos desse período , em maior ou menor grau, teceram críticas à nova realidade. Durkheim constatava que na sociedade moderna (industrial) a consciência coletiva (as crenças e respeito às normas que criavam um forte sentimento de comunidade) perdia força com o avanço da modernidade. Ele não via isso com bons olhos. Temia que isso levasse a sociedade a uma atomização; uma realidade na qual seriam bem fraco os nossos vínculos com os demais membros da sociedade. Ele não era pessimista, pois achava que a divisão do trabalho e outras instituições reconstruiriam esses vínculos em novas bases.

Weber era pessimista. Ele considerava a sociedade moderna como superior às que até então existiram. Porém, para ele a exaltação da razão (racionalidade instrumental) típica da modernidade acabaria criando uma realidade que reduziriam drasticamente o espaço para a espontaneidade e para a liberdade. Por isso , de forma pessimista, vê a nova realidade como uma gaiola de ferro,  ou seja, algo que suprime a liberdade.

Marx, sem dúvida, foi o que teceu as críticas mais contundentes à sociedade moderna. Embora ele não utilize este termo e prefira denominar a nova realidade social pela suas relações econômicas, ou seja, sociedade capitalista.

Pela importância política e acadêmica que as ideias de Marx tiveram e, de certa forma, ainda têm, vamos nos concentrar apenas nesse crítico da sociedade moderna.

A importância política das ideias de Marx 









Para ele, a sociedade capitalista estrutura-se sobre  o conflito de classes.
Para Marx a sociedade capitalista deve ser criticada porque
a) produz a alienação 





b) está baseada na exploração 






c) Está baseada na opressão






d) Se reproduz criando falsa consciência (ideologia)







A solução de todos esses problemas,  para  Marx,  viria da destruição (revolução) da sociedade capitalista. Isso aconteceria como resultado da luta de classes. A classe explorada premida pelas suas péssimas condições de vida (pauperização) tomaria consciência da situação de desumanização a que estava submetida e faria uma revolução. A partir dessa revolução seria construída uma sociedade comunista.


Atividades 
Abaixo você lerá trechos do capítulo: Mudanças na Estrutura das Sociedades Industriais a partir de Marx. Ele é o segundo capítulo do livro As Classes e os seus Conflitos na Sociedade Industrial, Ralf Dahrendorf, Brasília, Editora da Universidade de Brasília/Fundação Roberto Marinho, 1978.

Neste capítulo, Dahrendorf comenta criticamente algumas previsões que Karl Marx fez sobre o futuro da sociedade capitalista. Karl Marx foi um pensador que viveu e produziu intelectualmente no século XIX e fez uma volumosa e bastante elogiada análise do funcionamento da economia e da sociedade capitalista. Para Marx, a estrutura econômica da sociedade determina a estrutura social, política e cultural da sociedade. Baseado no estado do capitalismo no século XIX, Marx fez algumas previsões sobre o futuro da sociedade capitalista. Dahrendorf não nega o valor das análises de Marx. Para ele, suas análises foram excelentes, mas restringem-se à sociedade capitalista do século XIX. Embora baseada em tendências, as previsões de Marx, segundo Dahrendorf, não se realizaram. 
Ralf Dahrendorf ( 1929/2009) foi um sociólogo com inúmeros livros publicados em diversos idiomas. Ele foi diretor da LSE (London School of Economic and Political Science) no período 1979/89 e foi decano numa das faculdades que compõem a Universidade de Oxford.  



1. Sobre a situação dos trabalhadores
“ Marx foi um autêntico pensador do século XIX ao tentar derivar a sua previsão a respeito da crescente homogeneidade do operariado a partir da premissa de que o desenvolvimento técnico da indústria tenderia a abolir todas as diferenças de especialização e qualificação .....Marx adotou tranquilamente esta posição que se adaptava tão bem a suas teorias gerais da estrutura de classes sociais . Para ele ‘ Os interesses e as situações de vida do proletariado uniformizam-se cada vez mais, uma vez que a maquinaria extingue progressivamente as diferenças do trabalho e deprime o salário praticamente em todos os lugares, a um nível igualmente baixo’ “
“Na verdade, tanto quanto se pode afirmar com base nos elementos disponíveis, até o fim do século XIX prevaleceu a tendência `a não especialização da maior parte dos trabalhadores industriais; isto é a sua redução a um mesmo nível baixo de qualificação…”
(....)
“Neste caso como em outros, Marx estava evidentemente enganado. ‘Em todos os lugares a classe trabalhadora se diferencia cada vez mais, por um lado, em grupos ocupacionais e, por outro lado, em três grandes categorias com interesses diferentes, quando não contraditórios: os artífices especializados, os trabalhadores não especializados e os operários semiespecializados “
“.... O proletário, o escravo pauperizado da indústria indiferenciável dos seus companheiros em termos de trabalho, competência, salário e prestígio, desapareceu da cena “
Questão No primeiro parágrafo, Marx afirma que a classe operária sofreria dois processos de homogeneização.
1.1. Qual o primeiro processo de homogeneização apontado por Marx?
1.2. Qual o segundo processo de homogeneização apontado por Marx?
1.3. O que causaria estes dois processos? 

2. Sobre a classe média
Para Marx a classe média tendia a desaparecer. Lembre-se que ele morreu em 1883 e, portanto, estava falando da realidade que lhe era familiar. A classe média do tempo de Marx era basicamente composta por pequenos proprietários rurais e pequenos comerciantes e, por isso, ele a chama de pequena burguesia. A seu ver a concentração capitalista, ou seja, o processo no qual os grandes capitalistas levam os menores á falência ou compram as suas empresas, levaria a uma redução do tamanho da classe média. Evidentemente que tendo o seu tamanho reduzido, ela não teria forças para interferir na dinâmica da política.
Dahrendorf, que escreveu quase cem anos depois de Marx, viu outra realidade social. Para ele, a classe média, ao contrário de ficar reduzida, cresceu gigantescamente e adquiriu uma importância política desproporcional ao seu tamanho. 
2.1. Marx estava correto ao afirmar que a concentração do capital é uma tendência inexorável na dinâmica do sistema capitalista? Fundamente a sua resposta. Lembre-se de organizar uma frase que fique claro a sua tese (se Marx estava certo ou errado nesse ponto)
2.2. Leia a frase abaixo e diga se você concorda ou discorda dela. Não esqueça que você deve fundamentar a sua opção.
Ao contrário do que Marx imaginava, a concentração capitalista destrói pequenos negócios, mas, ao mesmo tempo, cria oportunidade para o surgimento de outros negócios.

3. Sobre a mobilidade social
“ ... Mas, para Marx, a mobilidade social era um sintoma de períodos transitórios e efêmeros da história, isto é , sintomas do surgimento ou do colapso iminente de uma sociedade. Hoje tenderíamos a tomar uma posição oposta. A mobilidade social tornou-se um dos elementos cruciais da estrutura da sociedade industrial a tal ponto que estaríamos tentados a prever o seu colapso caso o processo de mobilidade fosse seriamente frustrado, estorvado do surgimento ou do colapso “
(....)
“...Quando Marx escreveu a sua obra supôs que a posição ocupada por um indivíduo na sociedade é determinada pela origem da sua família e pela posição social dos seus pais. Os filhos de operários não têm outra escolha a não senão tornar-se eles próprios operários, e os filhos dos capitalistas permanecem na classe dos seus pais. Em sua época, provavelmente, esta suposição não se afastava muito da verdade. Mas, a partir de então, um novo modelo de alocação de papéis institucionalizou-se nas sociedades industriais. Hoje a alocação das posições sociais é, cada vez mais, tarefa do sistema educacional. .... A mobilidade social que, para Marx, era a exceção que confirmava a regra do fechamento das classes, transformou-se em uma estrutura das sociedades industriais ...“
Questão 3.1. Qual a tese de Marx sobre a mobilidade social na sociedade capitalista.    
Questão. 3.2 Qual é a tese de Dahrendorf sobre a mobilidade social na sociedade capitalista.
Questão. 3.3. Qual seria o principal fator de mobilidade social nas sociedades capitalistas?
4. Sobre a igualdade. ATENÇÃO. O texto abaixo tem um grau de dificuldade maior. O aluno precisa saber distinguir as partes do texto nas quais Dahrendorf expressa o que Marx teria dito sobre um determinado tema e as partes em que expõe a sua ideia sobre este mesmo tema. 
“Com efeito, Marx empregou seu estilo mais debochado e cínico ao referir-se à igualdade perante a lei na sociedade capitalista: ‘ Liberdade! Pois os compradores e vendedores de um bem, por exemplo, a força de trabalho, são determinados exclusivamente por sua livre vontade. Eles estabelecem contratos como pessoas livres e legalmente iguais...Igualdade! Pois eles se relacionam apenas como possuidores de bens e trocam equivalentes por equivalentes. Propriedade! Pois cada pessoa controla apenas o que é seu. ’ . Mas Marx esqueceu do que Tocqueville (cuja obra provavelmente ele conhecia) já havia observado antes dele, ou seja, que a igualdade é uma força altamente dinâmica e que se os homens são iguais em algumas áreas ‘devem, afinal, ser iguais em todas elas ‘ “
“Um passo considerável em direção à igualdade completa foi dado no século XIX, quando os direitos do cidadão foram estendidos à esfera política. O sufrágio universal e o direito à formação de partidos e associações políticas envolveram a remoção dos conflitos políticos das fábricas e das ruas para os órgãos de negociação e os parlamentos. Em um nível diferente, isso abriu a possibilidade de que os seguidores de Marx convertessem as teorias do seu mestre em realidades políticas – mas que também fez com que elas fracassassem nesse processo tão miseravelmente quanto o próprio Marx. Em virtude da liberdade de associação e da igualdade política, o movimento sindicalista original, assim como os partidos socialistas dele derivados, obtiveram êxito considerável em melhorar a sorte da classe trabalhadora , embora este progresso fosse restringido por muitos obstáculos..... Somente no nosso século (o século XX) , quando os direitos legais e políticos do cidadão foram suplementados por certos direitos sociais , o processo de equalização do status alcançou realmente o ponto em que as diferenças e os antagonismos de classe foram atingidos “
.... “Se a igualdade perante a lei era apenas uma ficção cínica para a maior parte das pessoas nas primeiras fases da sociedade capitalista, os amplos direitos do cidadão na sociedade industrial representam uma realidade em que neutraliza forçosamente todas as formas remanescentes de desigualdade e diferenciação sociais “
 Questão 4.1. Qual o tema central deste trecho ? Exponha a posição que, segundo Dahrendorf, Marx teria sobre este tema e exponha a posição assumida por Dahrendorf sobre este mesmo tema. ATENÇÃO. Seja o mais objetivo possível e deixe claro a oposição entre as duas posições defendidas. 


5. Sobre o conflito de classes.
“ Marx revelou certa ingenuidade sociológica ao expressar sua crença em que a sociedade capitalista seria inteiramente incapaz de lidar com o conflito de classes gerado por sua estrutura de classes (capitalistas X operários). Na verdade, todas as sociedades são capazes de enfrentar quaisquer novos fenômenos surgidos em seus seio, pelo menos pela inércia, simples , mas efetiva, que pode ser descrita , um pouco pretensiosamente , como o processo de institucionalização. No caso dos conflitos de classe, a institucionalização assumiu numerosas formas sucessivas e complementares. Teve início com o penoso processo de reconhecimento das partes disputantes como legítimos grupos de interesse. Dentro da indústria, um sistema secundário de cidadania industrial tornou possível tanto aos operários quanto aos empresários defender coletivamente os seus interesses. Fora da indústria, o sistema primário de cidadania política teve o mesmo efeito . E, se , no estágio de organização , o conflito pode desenvolver um intensidade visivelmente maior , a organização produz , pelo menos dois efeitos colaterais que operam em sentido contrário. A organização (dos interesses em conflito) pressupõe a legitimidade dos grupos em conflito e com isso remove a ameaça permanente e incalculável do conflito violento, intenso e altamente destrutivo, cuja expressão mais radical é a luta armada. Ao mesmo tempo, torna possível a regulação sistemática dos conflitos. Organização é institucionalização, e, enquanto a sua função manifesta é a defesa e cada vez mais articulada e veemente dos interesses dos diferentes grupos, ela também tem, invariavelmente, a função latente de estabelecer procedimentos de conflito que contribuem para reduzir a violência dos choques de interesse”
“Estas são generalizações derivadas da experiência dos conflitos de classe nas sociedades capitalistas e industriais. Neste caso, a organização do capital e do trabalho, da burguesia e do operariado, foi logo seguida por diversos modelos posteriores de regulamentação dos conflitos. Por um lado, as partes disputantes na indústria e na política puseram-se de acordo quanto às regras do jogo e criaram instituições que proporcionaram um arcabouço para a normalização do processo do conflito. Na indústria elas incluem órgãos de negociação coletiva de diversos tipos e os tribunais desempenham funções similares. Todas estas formas ajudam a transformar as greves e guerras civis das armas que antes eram a forma natural de expressão dos conflitos em recurso final para estes mesmos conflitos. “
“Marx foi tão sensibilizado pela dinâmica dos primeiros conflitos industriais que acreditou ser totalmente impossível sua resolução satisfatória a não ser através de uma revolução. No entanto, como muitos dos seus contemporâneos Marx se enganou …. Ao invés de um campo de batalha, o cenário do conflito de grupos tornou-se uma espécie de mercado em que forças relativamente autônomas confrontam-se de acordo com certas regras do jogo em virtude das quais ninguém é permanentemente vencedor ou perdedor. Naturalmente, este curso de desenvolvimento deve ser amargo para os marxistas ortodoxos ....mas o seu amargor é do tipo que faz sorrir os liberais “
Questão 5.1. Qual a previsão que Marx fez em relação ao conflito de classes na sociedade capitalista?
Questão 5.2. O que, segundo Dahrendorf, efetivamente aconteceu com o conflito de classes nas sociedades industriais?