Desenvolvendo a competência na leitura de textos acadêmicos.
A leitura de textos acadêmicos é fundamental para o aluno do
ensino superior. Ao entrar na faculdade o aluno se confronta com textos que, na
maior parte das vezes, foram escritos por um intelectual para expor as suas ideias
aos seus pares, ou seja, para outros intelectuais. Não poderia ser diferente,
pois espera-se que os alunos, uma vez formados, possam participar desse debate.
Isso, certamente coloca dificuldades de compreensão para os alunos iniciantes. O
problema é que sem compreender perfeitamente os textos dados, o aluno não poderá
crescer intelectualmente.
Acreditamos que a leitura de textos acadêmicos é uma
competência que pode e deve ser desenvolvida. Evidentemente que isso demanda
esforço por parte dos alunos. O ideal seria que aos alunos fosse dado
gradativamente textos com dificuldades que se tornariam crescentes e, dessa forma,
o aluno iria se familiarizando com as dificuldades de compreensão inerentes aos
textos acadêmicos e avançando de forma segura na compreensão dos mesmos. Isso, contudo, seria o conteúdo de um curso.
A competência da leitura de textos acadêmicos é, de certa maneira,
como a forma física. Entramos em forma, quanto mais praticamos. Assim, vamos postar
textos que tratem de assuntos correlatos ao campo da Administração e que foram
escritos por autores que, em grande medida, pautam a discussão atual sobre cada
um dos temas apresentados. Ao lê-los, o aluno estará adentrando no debate sobre
o tema em pauta e enfrentando a complexidade dos textos acadêmicos. Os textos postados
são curtos para que o aluno possa relê-los até tê-los entendido adequadamente.
Textos 1 .
O futuro do trabalho e do emprego
Os textos que você lerá abaixo tratam do futuro do trabalho
e do emprego. Eles fazem algumas previsões sobre o que acontecerá com o
trabalho e com o emprego seja a curto ou a médio prazo. E
Lembre-se que os textos abaixo tratam de previsões sobre o
mundo do emprego e do trabalho. Toda previsão parte de uma ou mais premissas
sobre o mundo atual. Por isso, é necessário que você perceba que são estas
premissas que fundamentam a previsão.
O conteúdo desses textos não esgota a discussão sobre o futuro do emprego e do trabalho. Ao ler e compreender esses textos, o aluno estará mais capacitado a acompanhar a discussão que é feita sobre esse tema e começar a ter um discurso concatenado sobre o tema. Nunca se esqueçam de citar o nome autor ao responder o que for pedido.
Texto 1.
O texto abaixo são as primeiras páginas do capítulo 1 do livro The End of Work. The Decline of the Global Labor Force and the Dawn of the Post-Market Era. Jeremy Rifkin. NY. The Putnam Book,1995. Há uma versão em português. O Fim dos Empregos. O contínuo crescimento do desemprego em todo o mundo. Jeremy Rifkin, SP. M.Books, 2004.
Este texto é de baixa dificuldade de compreensão.
O texto abaixo são as primeiras páginas do capítulo 1 do livro The End of Work. The Decline of the Global Labor Force and the Dawn of the Post-Market Era. Jeremy Rifkin. NY. The Putnam Book,1995. Há uma versão em português. O Fim dos Empregos. O contínuo crescimento do desemprego em todo o mundo. Jeremy Rifkin, SP. M.Books, 2004.
Este texto é de baixa dificuldade de compreensão.
“Desde o seu início,
a civilização tem sido estruturada, em larga medida, em torno do conceito de
trabalho. Dos caçadores e coletores do
período paleolítico, do pelo agricultor do período neolítico e da antiguidade,
passando pelo artesão medieval e chegando a linha de montagem das fábricas
modernas, o trabalho tem sido uma parte muito importante da nossa existência.
Agora, pela primeira vez, o trabalho humano tem sido sistematicamente eliminado
do processo de produção. Em menos de um século o trabalho em massa, característica
dos tempos que nos antecederam está sendo reduzido drasticamente em todas as
nações industrializadas. Uma nova geração de tecnologias da informação e de
comunicação estão sendo rapidamente introduzidas em uma ampla gama de situações
de trabalho. Máquinas inteligentes estão substituindo os seres humanos em um
grande número de tarefas, levando milhões de trabalhadores nas fábricas e
escritórios ao desemprego e à pobreza.
Nossos líderes corporativos e economistas nos dizem que o crescente desemprego expressa apenas um ajuste de curto prazo necessário em vista das forças de mercado decorrentes da Terceira Revolução Industrial. Eles anteveem a promessa de um mundo de elevado progresso tecnológico, grande aumento do comércio mundial e de inigualável abundância material.
Milhões de trabalhadores estão céticos. Toda semana eles aprendem que devem se preparar para algo ruim. Nos escritórios e fábricas em todo o mundo, as pessoas esperam com medo, acreditando que serão demitidas em breve. Tal qual uma epidemia mortal que inexoravelmente vai matando um grande número de pessoas, a estranha e aparentemente inexplicável nova doença econômica destrói vidas e desestabiliza comunidades em seu avanço. Nos Estados Unidos, as empresas têm eliminado mais de dois milhões de empregos anualmente. Em Los Angeles, o First Interstate Bankcorp, o décimo terceiro maior banco do país, recentemente reestruturou suas operações eliminando 9 000 empregos, o que significa mais de 25% da sua força de trabalho. Em Columbus, Indiana, a empresa Arvin fez uma reestruturação na planta produtiva da sua fábrica de componentes automotivos e demitiu quase 10% dos seus empregados. Em Danbury, no estado de Connecticut, a Union Carbide empreendeu uma operação de reengenharia em toda a empresa. No ano de 1995, com essa reengenharia, a Union Carbide, reduziu seus custos em 575 milhões de dólares. Esse processo 13 990 empregados, quase 22% da sua força de trabalho, foram demitidos. A Union Carbide espera cortar mais 22% dos seus empregados nos próximos dois anos.
Centenas de outras companhias também estão anunciando que farão demissões. A GTE, uma gigante do ramo telefônico, recentemente cortou 17 000 empregos. A NYNEX Corporation anunciou estar cortando 16 800 empregos. A Pacific Telesis pretende cortar mais de 10 000. A maioria dos cortes, diz o Wall Street Journal, estão sendo causados pela introdução de novos programas de computador, redes mais amplas de comunicação e outras inovações no campo da tecnologia que possibilitam as empresas produzirem mais com menos empregos.
Há empregos sendo criados na economia norte-americana, porém, eles são nos setores que notoriamente pagam baixos salários e nos empregos temporários. Em abril de 1994, dois terços dos novos empregos criados no país foram na parte de baixo da pirâmide salarial. Os dados referentes ao ano de 1994 mostram que o desemprego nas grandes corporações aumento em 13% em comparação ao ano anterior.
A redução dos empregos bem pagos não é exclusividade da economia dos Estados Unidos. Na Alemanha, a Siemens, um gigante do ramo eletrônico e da engenharia, em três anos, reduziu o seu corpo gerencial em quase 30% e eliminou mais de 16 000 empregos em suas empresas em todo o mundo. Na Suécia a ICA fez um processo de reengenharia em suas operações e informatizou inúmeras operações. Essas inovações gerenciais e tecnológicas possibilitaram a empresa reduzir em 30% os seus depósitos e centros de distribuição, cortando seus custos pela metade. Esse processo permitiu a ICA demitir mais de 5000 trabalhadores, o que corresponde a quase 30% de toda a sua força de trabalho e, ao mesmo tempo, aumentar seus rendimentos em mais de 15%. No Japão, a NTT, uma empresa gigante do ramo de telecomunicações, anunciou a intenção de cortar 10 000 empregos em 1993 e acrescentou que, como parte do seu programa de reestruturação, ela poderia ainda vir a cortar mais 30 000 empregos, ou seja, 15% da sua força de trabalho.
O número de desempregados e de subempregados está aumentando diariamente nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. As nações em desenvolvimento enfrentam o desemprego tecnológico nas filiais das multinacionais instaladas em seus territórios. Desta forma milhões de pessoas se veem numa situação de total insegurança tendo em vista que não têm como enfrentar e resistir às estratégias de corte de custo (reengenharia), às inovações tecnológicas introduzidas no mundo empresarial. Em um número cada vez maior de países as notícias que vêm do mundo das empresas falam de modo de produção enxuto, reengenharia, gerência de qualidade total, pós-fordismo, downsizing e outras que fazem que homens e mulheres fiquem extremamente preocupados em relação ao futuro. Os jovens estão aprendendo a descarregar suas frustrações através de comportamentos antissociais.
Trabalhadores mais velhos que viveram um passado próspero e de esperança temem um futuro sombrio e se sentem aprisionados por forças sobre as quais não têm o menor controle. Por todo o mundo há uma clara certeza de que uma mudança profunda está em curso. Uma mudança tão profunda e vasta que mal podemos compreender seu impacto. A vida, como nós a conhecemos está sendo alterada de forma fundamental. ”
Atividade do texto 1
Qual é a tese defendida por Jeremy Rifkin e como ele fundamenta a sua tese?
Qual é a tese defendida por Jeremy Rifkin e como ele fundamenta a sua tese?
Texto 2.
O texto abaixo foi retirado do livro: Um Mundo sem Empregos. Jobshift. Os Desafios da Sociedade Pós-Industrial. William Bridges. SP. Makron Books, 1995. Lembro que, às vezes, alterei a ordem de alguns parágrafos para que a ideia central do autor fosse mais facilmente percebida e (ou) o texto ficasse mais fácil de ser entendido.
O texto abaixo foi retirado do livro: Um Mundo sem Empregos. Jobshift. Os Desafios da Sociedade Pós-Industrial. William Bridges. SP. Makron Books, 1995. Lembro que, às vezes, alterei a ordem de alguns parágrafos para que a ideia central do autor fosse mais facilmente percebida e (ou) o texto ficasse mais fácil de ser entendido.
O texto abaixo apresenta uma dificuldade um pouco maior uma vez que ele estabelece uma distinção entre dois conceitos que, no dia a dia, são tratados como sinônimos. Sem perceber essa distinção, o aluno não compreenderá o texto.
“ Enquanto escrevo este prefácio, o jornal da manhã traz mais um caso de novas ´perdas de emprego´ - na verdade, diversos casos. Dizem-nos que a recessão já acabou há muito tempo, mas a porcentagem da força de trabalho que está desempregada não caiu de maneira como aconteceu no final das recessões anteriores. A administração Clinton está tentando ‘criar empregos’ , embora seus críticos afirmem que alguns dos novos impostos e regulamentos ‘destruirão os empregos’ . Ouvimos dizer que a única maneira de protegermos nossos empregos é aumentar nossa produtividade, mas depois descobrimos que fazer a reengenharia de nossos processos de trabalho , utilizar equipes autogeridas , nivelar nossas organizações e transferir nossos trabalhos rotineiros sempre torna muitos empregos redundantes.
“A realidade é muito mais preocupante porque o que está
desaparecendo hoje não é apenas um certo número de empregos, ou empregos de
certas áreas econômicas, ou empregos de alguma parte do país - ou até mesmo
empregos nos Estados Unidos como um todo. O que está desaparecendo é a coisa em
si: o emprego. Essa tão procurada e tão difamada entidade social está
desaparecendo hoje como uma espécie que sobreviveu além do seu tempo
evolucionário. ”
“ O emprego é um artefato social , embora esteja tão
arraigado em nossas consciências que a maioria de nós se esqueceu de sua
artificialidade ou do fato de que a maioria das , espécies , desde o início dos
tempos, tenha se saído muito bem sem empregos. O conceito de emprego surgiu no
começo do século XIX , para englobar o trabalho que precisava ser feito nas
crescentes fábricas e burocracias das nações em fase de industrialização .
Antes de ter empregos, as pessoas trabalhavam de maneira igualmente árdua , mas
em grupo mutáveis de tarefas , numa variedade de localizações , de acordo com
uma programação determinada pelo sol, pelo tempo e pelas necessidades do dia. O
emprego moderno foi uma nova ideia assustadora – para muitas pessoas , uma
ideia desagradável e até mesmo socialmente perigosa. Seus críticos afirmavam
que era um modo antinatural e até desumano de se trabalhar. Previam que a
maioria das pessoas não seria capaz de conviver com suas exigências.” Páginas
XIV e XV
Mas esta não é mais uma lamúria de que ‘ a economia está
afundando’ – longe disso, porque acredito que o mundo moderno encontra-se `a
beira de um enorme salto rumo à criatividade e produtividade. Mas o emprego não
vai fazer parte da realidade econômica de amanhã. Embora sempre exista uma
enorme quantidade de trabalho para ser feita, este livro sugere que o trabalho
não estará contido nos invólucros tão conhecidos a que chamamos de emprego. Na
verdade, muitas organizações hoje estão prestes a ficar ‘desprovidas ‘ de emprego.
“ No sentido quantitativo, o desaparecimento dos empregos é
simplesmente um jogo de números: o mesmo trabalho que há alguns anos costumava
exigir uma centena de trabalhadores, hoje pode ser feito por cinquenta – e
talvez por dez amanhã. Isso não é novidade. Já estamos transferindo as tarefas
de fabricação para máquinas há quase duzentos anos. Fizemos isso tão
eficazmente que o setor industrial de nossa economia hoje produz, com um número
não maior de trabalhadores, cinco vezes mais bens do que ao final da Segunda
Guerra Mundial. ”
Não são apenas os empregos na área de produção que estão
desaparecendo. Proporcionalmente, os empregos administrativos estão
desaparecendo ainda mais rapidamente e outro tanto está ameaçado
Está ocorrendo uma mudança qualitativa também. Não se trata
apenas de um número menor de empregos ao estilo antigo. As condições de
trabalho motivadas pelas novas realidades tecnológicas e econômicas não são
empregos no sentido tradicional.; e em grande parte do que está sendo feito nas
organizações atualmente é feita por pessoas que não têm um ‘ emprego formal’ .
Certamente é sugestivo que a empresa privada que emprega mais americanos do que
qualquer outra – cujos 560 000 empregados superam outros gigantes como a GM
(atualmente com 365 000 e a IBM (atualmente com 330 000) – seja uma agência de
empregos temporários , a Manpower. Não há dúvida de que, como a imprensa
começou a reconhecer, os Estados Unidos estão sendo ‘temporizados’. Os
trabalhos temporários e de horário não integral estão participando cada vez
mais do trabalho das organizações americanas, e o processo tem ido mais longe
do que a maioria das pessoas pode perceber. Um memorando confidencial do Bank
of America, que vazou para a imprensa, estimava que ‘ logo somente 19% dos
empregados do banco ainda trabalharão em tempo integral’ páginas 8 a 11
“Algumas das alternativas para os empregos são óbvias: você
pode iniciar um negócio por conta própria ; pode tornar-se um artista , um
consultor, pode fazer trabalho autônomo , ou trabalho em tempo não integral ,
ou trabalho por empreitada em sua casa. E, sob a pressão do desaparecimento dos
empregos nas organizações americanas, cada vez mais pessoas estão fazendo estas
coisas. Mas há também outra resposta mais difícil de ser articulada (e impossível
de se medir) porque não se situa dentro das fronteiras familiares do tempo não
integral e do auto emprego. Essa resposta é que você pode fazer aquilo que um
número cada vez maior de pessoas está fazendo: trabalhando dentro de
organizações como empregados de tempo integral , mas sob arranjos por demais
fluídos e idiossincráticos para serem chamados de empregos. P. 46 e 47
“ Encontramo-nos num divisor de águas comparável atualmente.
Novamente, o futuro parece ser tão perigoso quanto incerto. Novamente podemos
ver os sombrios contornos do novo mundo pós-emprego e, mais uma vez não temos
certeza de que seremos capazes de administrar a nova vida que nos espera. E o
que devemos fazer ? p. 190
“Todos nós teremos de aprender novas maneiras de trabalhar.
...Embora em alguns casos as novas maneiras de se trabalhar exijam novas
habilidades tecnológicas, na maioria das vezes exigirão algo mais fundamental:
a ‘habilidade’ para descobrir e realizar trabalho num mundo sem empregos bem
definidos e estáveis. Tornou-se quase um truísmo que as carreiras hoje devem
ser autogeridas, mas frequentemente essa afirmação simplesmente significa que
você terá que encontrar seu próximo emprego sem ajuda externa . O problema é
que esse conselho já está desatualizado. Os trabalhadores de hoje precisam
esquecer completamente os empregos e procurar , em vez disso, o trabalho que
precisa ser feito - e então se organizarem quanto à melhor maneira de realizar
o trabalho” prefácio XV
Atividade do texto 2
Qual é a tese defendida por William Bridges neste texto?
Texto 3.
O trecho abaixo foi retirado do capítulo: O Empregado Autônomo , capítulo 18 do livro Powershift. As Mudanças do Poder. Alvin Toffler, RJ, Editora Record,1993
O texto abaixo apresenta uma dificuldade um pouco maior do
que os anteriores. A base da dificuldade desse texto é o grande número de
conceitos que o aluno precisa dominar para poder entender exatamente o que o autor
está afirmando. Esse tipo de dificuldade, por sua vez, cria um complicador a
mais; fica difícil distinguir o que é essencial e o que é secundário no texto
abaixo. Por isso ele exigirá um esforço maior.
“ Grande parte da relativa impotência da classe trabalhadora
industrial era derivada precisamente deste fato; eles eram intercambiáveis.
Desde que os cargos exigiam pouca qualificação e os operários podiam ser
treinados em pouco tempo para fazer uma tarefa de cor, um operário era tão bom
quanto outro qualquer. Especialmente em períodos de excesso de mão de obra , os
salários baixavam e os operários , mesmo quando sindicalizados , tinham pouco
poder de barganha.
(....)
Além do mais , à medida que o componente do conhecimento do
trabalho aumenta, os empregos se tornam mais individualizados, isto é, menos
intercambiáveis. Segundo o consultor James P Ware, vice-presidente do Index
Group ‘ os trabalhadores com base no conhecimento são cada vez menos
substituíveis. As ferramentas são usadas de maneiras diferentes por cada
trabalhador que usa o conhecimento. Um engenheiro usa o computador de forma
diferente do seguinte. Uma analista de mercado analisa as coisas de uma maneira
; o seguinte é diferente.’
Quando um trabalhador vai embora , a companhia precisa
encontrar outro com capacidade igual, o que se torna matematicamente mais
difícil ( e mais dispendioso) à medida que aumenta a variedade de aptidões , ou
terá que treinar outra pessoa , o que também é dispendioso. Daí os custos de
substituir qualquer indivíduo aumentam , e o poder de barganha desse indivíduo
aumenta na mesma proporção. “
(......)
Na era das chaminés, nenhum empregado isolado tinha um poder
significativo em qualquer disputa com a firma. Só uma coletividade de
trabalhadores, unidos e ameaçando parar os músculos, podia obrigar uma administração
recalcitrante a melhorar o salário ou as condições de trabalho. Só a ação em
grupo podia reduzir ou parar a produção, porque qualquer indivíduo era
facilmente intercambiável e, por isso , substituível. Foi essa a base para a
formação dos sindicatos dos trabalhadores.
(....)
[ Hoje] Muito mais importante é o deslocamento em direção à
não intercambialidade. Á medida que o trabalho fica mais diferenciado , a
posição de barganha dos indivíduos com aptidões cruciais vai melhorando . Os
indivíduos, e não apenas os grupos organizados , podem exercer influência.
(...)
Hoje estamos passando pela transferência seguinte de poder
no local de trabalho. Uma das grandes ironias da história é o fato de estar
surgindo um empregado autônomo que, de fato, é dono dos meios de produção. Os
novos meios de produção, no entanto, não se encontram na caixa de ferramenta do
artesão ou na maciça maquinaria da era das chaminés. Eles estão , em vez disso,
estalando no interior do crânio do empregado- onde a sociedade irá encontrar a
mais importante fonte individual de riqueza e poder futuros. “
Atividade do texto 3. Qual a tese defendia por Alvin Toffler
no texto acima?
Te
Texto 4.
O texto
abaixo intitula-se As dimensões da crise no mundo do trabalho, escrito por
Ricardo Antunes , autor de vários livros sobre Sociologia do Trabalho. Este
encontra-se no seguinte endereço eletrônico: http://www.adua.org.br/artigos.php?cod=92
O texto abaixo apresenta a visão de
um autor marxista sobre o cenário no mundo do trabalho nos dias atuais. Este
texto também traz o complicador do texto acima. Ele utiliza conceitos que são desconhecidos
para a quase totalidade dos alunos dos primeiros anos. Além disso, o aluno deverá
perceber que no texto dois temas são tratados.
"Nos últimos anos, particularmente
depois da década de 1970, o mundo do trabalho vivenciou uma situação fortemente
crítica, talvez a maior desde o nascimento da classe trabalhadora e do próprio
movimento operário inglês. O entendimento dos elementos constitutivos desta
crise é de grande complexidade, uma vez que, neste mesmo período, ocorrem
mutações intensas, de ordens diferenciadas, e que, no seu conjunto, acabaram
por acarretar consequências muito fortes no interior do movimento operário, e,
em particular, no âmbito do movimento sindical. O entendimento deste quadro,
portanto, supõe uma análise da totalidade dos elementos constitutivos deste
cenário, empreendimento ao mesmo tempo difícil e imprescindível, que não pode
ser tratado de maneira ligeira.
Neste artigo, vamos somente indicar
alguns elementos que são centrais em nosso entendimento, para uma apreensão
mais totalizante da crise que se abateu no interior do movimento operário. ....
Começamos dizendo que neste período
vivenciamos um quadro de crise estrutural do capital, que se abateu no conjunto
das economias capitalistas, especialmente a partir do início dos anos 70. Sua
intensidade é tão profunda que levou o capital a desenvolver "práticas
materiais da destrutiva auto reprodução
ampliada ao ponto em que fazem surgir o espectro da destruição global, em lugar
de aceitar as requeridas restrições positivas no interior da produção para
satisfação das necessidades humanas".
Esta crise fez com que, entre tantas
outras consequências, o capital implementasse um vastíssimo processo de
reestruturação, com vistas à recuperação do ciclo de reprodução do capital e
que, como veremos, afetou fortemente o mundo do trabalho. Retomaremos adiante
este ponto.
Um segundo elemento fundamental para
o entendimento das causas do refluxo do movimento operário decorre do explosivo
desmoronamento do Leste europeu (e da quase totalidade dos países que tentaram
uma transição socialista, com a URSS à frente), propagando-se, no interior do
mundo do trabalho, a falsa ideia do "fim do socialismo". Embora a
longo prazo as consequências do fim do Leste europeu sejam eivadas de
positividades (pois coloca-se a possibilidade da retomada, em bases
inteiramente novas, de um projeto socialista de novo tipo, que recuse, entre outros
pontos nefastos, a tese staliniana do "socialismo num só país" e
recupere elementos centrais da formação de Marx), no plano mais imediato houve,
em significativos contingentes da classe trabalhadora e do movimento operário,
a aceitação e mesmo assimilação da nefasta e equivocada tese do "fim do
socialismo" e, como dizem os apologistas da ordem, do fim do marxismo.
E mais, ainda como consequência do
fim do chamado "bloco socialista", os países capitalistas centrais
vêm rebaixando brutalmente os direitos e as conquistas sociais dos
trabalhadores, dada a "inexistência", segundo o capital, do
"perigo socialista" hoje. Portanto, o desmoronamento da URSS e do
Leste europeu, ao final dos anos 80, teve enorme impacto no movimento operário.
Bastaria somente lembrar a crise que se abateu nos partidos comunistas
tradicionais, e no sindicalismo a eles vinculado. (...)
É preciso acrescentar ainda que, com
a enorme expansão do neoliberalismo a partir de fins dos anos 70, e a consequente
crise do Welfare-State, deu-se um processo de regressão da própria
social-democracia, que passou a atuar de maneira muito próxima da agenda
neoliberal. O projeto neoliberal passou a ditar o ideário e o programa a serem
implementados pelos países capitalistas, inicialmente no centro e logo depois
nos países subordinados, contemplando restruturação produtiva, privatização
acelerada, enxugamento do estado, políticas fiscais e monetárias sintonizadas
com os organismos mundiais de hegemonia do capital como FMI e BIRD, desmontagem
dos direitos sociais dos trabalhadores, combate cerrado ao sindicalismo
classista, propagação de um subjetivismo e de um individualismo exacerbados da
qual a cultura "pós-moderna" é expressão, animosidade direta contra
qualquer proposta socialista contrária aos valores e interesses do capital etc.
(...)
Como resposta do capital à sua crise
estrutural, várias mutações vêm ocorrendo e que são fundamentais nesta viagem
do século XX para o século XXI, caso se queira, como ensinou Marx,
"apoderar-se da matéria, em seus pormenores, analisar suas diferentes
formas de desenvolvimento e de perquirir a conexão íntima que há entre
elas" (conforme a nossa epígrafe recolhida do posfácio à 2ª edição de O
capital, de 1873). Uma delas, e que tem importância central, diz respeito às
metamorfoses no processo de produção do capital e suas repercussões no processo
de trabalho.
Particularmente nas últimas décadas, como
respostas do capital à crise dos anos 70, intensificaram-se as transformações
no próprio processo produtivo, através do avanço tecnológico, da constituição
das formas de acumulação flexível e dos modelos alternativos ao binômio
taylorismo/fordismo, no qual se destaca, para o capital, especialmente, o
modelo "toyotista" ou o modelo japonês. Estas transformações,
decorrentes, por um lado, da própria concorrência intercapitalista e, por
outro, dada pela necessidade de controlar o movimento operário e a luta de
classes, acabaram por afetar fortemente a classe trabalhadora e o seu movimento
sindical.
Fundamentalmente, essa forma de
produção flexibilizada busca a adesão de fundo, por parte dos trabalhadores,
que devem abraçar, de "corpo e alma", o projeto do capital.
Procura-se uma forma daquilo que
chamei, em Adeus ao trabalho?
de envolvimento manipulatório levado ao limite, no qual o capital busca o
consentimento e a adesão dos trabalhadores, no interior das empresas, para
viabilizar um projeto que é aquele desenhado e concebido segundo os fundamentos
exclusivos do capital.
Atividades do texto 4
4.1. Qual é a tese apresentada na primeira parte do
texto?
4.2. Qual é a tese apresentada na
segunda parte do texto?